segunda-feira, 13 de julho de 2009

Enquanto pensava incoerências, escrevia em guardanapos no balcão. Saíram tantas palavras e minha esferográfica já reclamava, sem tinta. Quando fui pegar mais um percebi que acabara com o estoque e estava cheia de guardanapos e vómitos verbais sob meus cotovelos. O prato sujo com os restos da minha alimentação me causou um asco que rapidamente resolvi 'defuntando-o' com um dos guardanapos abertos. O quadrado fazia um 'xis' no meio, que separava em grupos de sensações o que havia escrito: a perda, o gozo, os pesares e as vontades. O garçom passou levando o que eu não queria mais, o que eu gostaria de viver, o que eu conseguiria ser e o que eu não poderia ter... e só consegui respirar profundamente aliviada quando vi tudo aquilo indo embora.
Enfim, levantei e segui rumo ao meu destino.
Assim que cheguei, quando coloquei meus pés do portão para dentro fui tomada por um silêncio cerebral, que me impossibilitava de pensar em qualquer coisa, todavia continuei andando até a lápide. Com ela em minha frente sentei e fiquei muito tempo olhando pra foto dele de olhos puxados e pequenos com um sorriso escapando no canto dos lábios. Fiquei calma,(...) me despedi e fui embora.
Na volta pra casa, enquanto o frio queimava minhas bochechas ruborizando meu rosto, senti uma coriza pedindo para sair junto com lágrimas, como todas aquelas palavras escritas. Vendo letras pingando busquei rapidamente algo no bolso da jaqueta que pudesse me poupar de lê-las, limpei tudo com um daqueles guardanapos que me havia restado, que estava rabiscado com o desenho de um coração e uma flecha no meio.