segunda-feira, 31 de maio de 2010

'Mesmo sem compreender, quero continuar aqui onde está constantemente amanhecendo.'
Caio Fernando Abreu

terça-feira, 18 de maio de 2010

do cão-aspirador

era manhã de sol e lá estava ele me observando com aqueles
olhos puxados na espera de um sinal que o dissesse que era
a hora do despertar com uma piscada ele saltava na cama
e com toda a força sugava tudo o que na noite havia me
punido trazendo cócega e gargalhada carregando meu
'tanque' para o resto desse dia gastando todas enfim

domingo, 16 de maio de 2010

do homem-picolé

Observava-o enquanto dormia
só esperando o calor bater
pronta para beber tudo
quando ele derretesse

domingo, 9 de maio de 2010

Luca e Pablo

De castigo no quarto, escorado na janela enquanto via os garotos da rua empinando pipa, Luca fazia bonequinhos de massinha: uma foca laranja de nariz vermelho com três olhos amarelos, um pássaro preto, porque urubus são contra as regras, e um jacaré verde, afinal, não se pode ser rebelde sempre.
Bastou três minutos para descer as escadas, tropeçar no tapete da porta, pegar o biscoito na cozinha e subir as escadas de novo para que sua alegria matinal acabasse ao adentrar o quarto. Pablo, seu cão, havia abocanhado toda a sua fauna multicolorida, restando apenas o rabo do pássaro preto. Sem hesitar Luca virou o cão de cabeça para baixo balançando-o, assim, tudo sairia facilmente. Depois de mais de cinco minutos fazendo isso, vendo que não obtivera sucesso, o garoto largou o animal e pôs-se a chorar sem parar. Jogou as meias e tudo que havia no tapete e insultou o cão com palavras feias, mas Pablo só lambia os beiços e mantinha o olhar fixo no menino chorão.
Luca irado olhou para o cão e gritou: - Saia daqui, agora! Você matou todos os meus novos amigos. Abriu a porta e chutou Pablo para fora.
Ainda no chão, abriu os braços afundando-os nos pelos do tapete, olhou para a porta e sentiu um arrependimento que fazia doer o coração por ter sido tão rude com Pablo. Passou muito tempo olhando para o teto pensando em como a foca, o jacaré e o urubu, agora sem rabo, estavam se saindo lá dentro e imaginou com uma vontade extremamente forte como seria estar dentro da boca de um dinossauro, um lugar onde não pudesse se frustrar e tudo fosse quentinho como colo de mãe.
Um barulho trouxe Luca de seu devaneio. Ele se deu conta de que ficara muito tempo ali naquela posição e correu para a porta, que Pablo arranhava chamando por ele. Quando abriu se deparou com uma meleca que tinha quase todas as cores do arco-íris e com Pablo deitado com a boca suja e um olhar de arrependimento. Vendo tudo aquilo sentou no chão, abraçou o cão deitando ao seu lado e com os olhos fechados e apertados agradeceu por não ter um dinossauro de verdade.