sexta-feira, 24 de julho de 2009

.uníssono.

Deitada no tapete, só de roupão, fiz um esforço enorme pra ligar o rádio sem precisar me mover demasiadamente. Estiquei a perna e com o dedão do pé apertei o 'play' sem ter a menor ideia do que as caixas de som me reservavam. Tocava uma música que eu nunca havia escutado... que me deixou com uma sensação de liberdade, como há muito tempo não me sentia. Passei o resto do dia assim. Ainda estou cantando em pensamento, errando algumas palavras, no aguardo de uma possível chance de ouvi-la de novo.
Algumas melodias são como beliscos, apertos, abraços, socos, pontapés, beijos e inúmeras outras materializações de sentido.
Tudo depende do fado.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

incorrendo

Juro que tentei chegar, mas estava escuro e no caminho havia um buraco. Ainda estou aqui tentando sair, gritando, esperando que alguém passe e me ouça, vendo os pássaros voarem e cagarem sobre a minha cabeça.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Sobre salamandras

"Os anfíbios constituem uma classe de animais vertebrados. A caraterística mais marcante dos seres vivos da classe é o seu ciclo de vida dividido em duas fases: uma aquática e outra terrestre, apesar de haver excepções. Já adultos, a dependência da água dos anfíbios jovens é superada parcialmente, e após a metamorfose estes animais podem deixar a água e viver em habitat terrestre. Apesar de pulmonados, os representantes dessa classe possuem uma superfície alveolar muito pequena, incapaz de suprir toda a demanda gasosa do animal. Portanto, como complemento à respiração pulmonar, os anfíbios realizam a respiração cutânea (trocas de gases através da pele), e para tanto possuem a pele bastante vascularizada e sempre humedecida.
Alguns anfíbios podem ser venenosos, sendo que alguns deles estão inclusive entre os animais mais venenosos. Entretanto, este veneno é eliminado apenas quando a glândula é apertada.
O manuseamento de anfíbios é normalmente seguro, desde que o veneno não entre na circulação sanguínea. Deve-se por isso lavar as mãos depois do contacto com os animais."

Há ocasiões que preciso me humedecer, sinto-me parcialmente superada em muitos aspectos, demasiadamente venenosa quando comprimida, necessito de trocas em contacto com a pele e constantemente em fase aquática e terrestre.
Me identifico tanto com as salamandras, todavia é fato que eu uso pijamas e penso em cinzas e perdas, elas não.
Mágico.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Breve

Mandaria flores, mas da última vez que se encontraram ele rasgou a carta dela ao meio e caiu em prantos. Ligaria, porque mesmo depois de apagar todas as anotações os números ainda estavam na memória, mas ela não atenderia. Daria outro animal de estimação, já que o responsável pelo sumiço de seu cão, Fleming, foi ele, mas ela não perdoaria. Iria até a casa dela, mas seria o início de uma guerra com marcas de arranhões na face e ela o mataria. Escreveria uma carta ou um e-mail, mas ela não responderia, e o que ele precisava era uma resposta.
Desolado, sem nada que pudesse fazer com que ela simplesmente soubesse que ele ainda pensava neles, que ainda gostava 'deles' e que se arrependera, resolveu fazer um avião de papel colocando no meio o biscoito favorito que Fleming gostava. De manhã abriu a janela do quarto, que ficava no décimo segundo andar, beijou a dobradura e lançou. Respirou aliviado e voltou a dormir os vinte minutos que lhe restavam antes do dia caótico que o esperava. Sorrindo sozinho e murmurando para o travesseiro rezou para que ele e o cão voltassem juntos e brevemente para casa.

terça-feira, 14 de julho de 2009

limp_des

Hoje comprei um rodo com o intuito de voar. No cair da tarde saí com ele e um sabão em pedra na mão pra passear por cima da sua casa, e lá estava você fumando no quintal. Mirei e lancei o sabão rumo a sua cabeça. Acertei e você acabou desmaiando sem conseguir ler o bilhete amarrado nele: 'Pra você! Lave a boca, meu amor.'

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Enquanto pensava incoerências, escrevia em guardanapos no balcão. Saíram tantas palavras e minha esferográfica já reclamava, sem tinta. Quando fui pegar mais um percebi que acabara com o estoque e estava cheia de guardanapos e vómitos verbais sob meus cotovelos. O prato sujo com os restos da minha alimentação me causou um asco que rapidamente resolvi 'defuntando-o' com um dos guardanapos abertos. O quadrado fazia um 'xis' no meio, que separava em grupos de sensações o que havia escrito: a perda, o gozo, os pesares e as vontades. O garçom passou levando o que eu não queria mais, o que eu gostaria de viver, o que eu conseguiria ser e o que eu não poderia ter... e só consegui respirar profundamente aliviada quando vi tudo aquilo indo embora.
Enfim, levantei e segui rumo ao meu destino.
Assim que cheguei, quando coloquei meus pés do portão para dentro fui tomada por um silêncio cerebral, que me impossibilitava de pensar em qualquer coisa, todavia continuei andando até a lápide. Com ela em minha frente sentei e fiquei muito tempo olhando pra foto dele de olhos puxados e pequenos com um sorriso escapando no canto dos lábios. Fiquei calma,(...) me despedi e fui embora.
Na volta pra casa, enquanto o frio queimava minhas bochechas ruborizando meu rosto, senti uma coriza pedindo para sair junto com lágrimas, como todas aquelas palavras escritas. Vendo letras pingando busquei rapidamente algo no bolso da jaqueta que pudesse me poupar de lê-las, limpei tudo com um daqueles guardanapos que me havia restado, que estava rabiscado com o desenho de um coração e uma flecha no meio.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

há-de...

Antes de entrar li um aviso informando que eu deveria deixar os sapatos do lado de fora, o fiz, e pisei naquele chão cheio de cacos, pontas e pregos que circundavam uma pequena almofada bem no centro da sala com uma caixa suspensa no teto, em cima dela. As paredes, o teto e os objetos eram repletos de espelhos e para todos os lugares que olhava me via.
Resolvi enfrentar o caminho, a fim de descobrir o que havia lá. Quando finalmente pisei na almofada, tingindo-a de rubro, abri a caixa perdendo o equilíbrio e caindo junto com o que havia nela, e fui surpreendida com um banho de tinta, na cor verde. A tinta escorreu pelo chão tirando os cacos e cobrindo o rastro de sangue que eu havia deixado. Olhando para aquela imagem no espelho me levantei, tentei limpar os olhos e segui caminhando até a porta, onde meu par de sapatos me esperava, limpo, para voltarmos juntos e esverdeados para casa.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

.olhava.

Não verei mais o mar na minha frente...

muito chão.