quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Incidente inopinado

Clara passava todos os dias pela mesma rua, que tinha uma praça na frente, a igreja em uma esquina e na outra uma casa verde de janelas brancas que trabalhava um senhor que fazia carimbos.
No domingo, voltando do sarau, enquanto tentava lembrar trechos daquela poesia que tanto gostava, "... porque não voltar a apalpar as primeiras formas..." teve o pensamento interrompido pelos olhos surpresos e fixos na fila enorme que dobrava a esquina da igreja. Se recompôs e seguiu a fila em busca do começo, afim de desvendar o alvoroço. Quando chegou na primeira pessoa percebeu que estava em frente a casa verde. Um rapaz baixo, de óculos, saiu rapidamente de dentro da casa, esbarrando nela. Clara caiu na calçada, e em cima dela, algumas caixinhas que ele carregava. O rapaz, desconsertado, apanhou todos, se desculpou e partiu. Ela, limpou o vestido, levantou e viu no chão uma caixa que havia ficado, colocou-a no bolso e correu para alcançar, mas não conseguiu. Cansada da corrida, sentou na grama e ficou na praça observando a fila diminuir.
Após algumas horas, já em casa, lembrou da caixinha e resolveu abrir. Dentro, havia um pequeno pedaço de um tecido xadrez embrulhando um carimbo. Ansiosa, tirou-o da caixa. O desenho em relevo era um círculo pela metade, com o nome dela escrito dentro. Espantada, buscou a caixa para obter informações, no verso havia uma instrução: "Carimbo mágico - funciona somente com a outra metade." E na tampa, um aviso em vermelho: "Use somente nos olhos."