segunda-feira, 8 de março de 2010

Aparando agudos

Da janela via o ipê triste, tinha a impressão de um pedido de súplica ou um abraço apertado, como se ele aguardasse alguém durante anos, todos os dias, no mesmo lugar e horário. Quando florescia e perdia todas as folhas, eu chegava a pensar que estava próximo da chegada desta incógnita, mas sem demora ele ganhava aquele ar de abandono.
Na casa ao lado, há pouco tempo, havia mudado um casal e sua filha de três anos. A menina pediu ao pai para que colocasse um balanço no ipê, que sempre esteve tão só. Ela tenta ser sempre presente, salvo nos dias de muita neve ou chuva, e chega a passar horas balançando, olhando para as flores como se estivesse flutuando e o ipê retribui lançando pétalas, extirpando sorrisos dela.
Eu, já não sei se a primavera me pareceu durar mais tempo do que deveria ou se é o ipê que finalmente recebeu o alguém tão insistentemente esperado.